Mitos e verdades sobre a reposição hormonal: o que a ciência diz

Polina Tankilevitch (Pexel)

A reposição hormonal (RH), especialmente no contexto da menopausa e andropausa, é um dos temas mais debatidos na área da saúde.

Com tantos boatos circulando na internet e nas conversas do dia a dia, torna-se essencial separar os fatos comprovados cientificamente dos mitos que causam medo e desinformação.

Neste artigo, vamos esclarecer os principais pontos sobre a reposição hormonal com base em evidências científicas atualizadas.

O que é reposição hormonal?

A reposição hormonal é um tratamento médico que visa restabelecer os níveis hormonais que naturalmente diminuem com o passar dos anos.

Nas mulheres, essa queda acontece principalmente durante a menopausa, com a redução dos hormônios estrogênio e progesterona.

Nos homens, a andropausa é marcada pela diminuição da testosterona.

A terapia de reposição hormonal pode ser realizada por meio de comprimidos, adesivos, géis, cremes ou implantes hormonais. O objetivo é aliviar sintomas como ondas de calor, insônia, perda de libido, irritabilidade, secura vaginal e, em alguns casos, prevenir doenças relacionadas à deficiência hormonal.

Mito 1: Toda reposição hormonal causa câncer

Verdade parcial. Esse é um dos mitos mais comuns e alarmantes. Estudos iniciais, como o da Women’s Health Initiative (WHI), de 2002, levantaram preocupações sobre o aumento do risco de câncer de mama com o uso de reposição hormonal combinada (estrogênio + progesterona sintética).

No entanto, revisões mais recentes mostram que os riscos variam de acordo com o tipo de hormônio, a via de administração, a idade da paciente e o tempo de uso. A reposição hormonal não está proibida, e sim individualizada. Quando iniciada até 10 anos após o início da menopausa e em pacientes sem contraindicações, os benefícios podem superar os riscos.

Mito 2: A reposição hormonal engorda

Mito. A reposição hormonal em si não causa ganho de peso. A alteração na composição corporal durante a menopausa — como aumento da gordura abdominal e perda de massa magra — está mais relacionada às mudanças hormonais naturais do que à terapia em si.

Na verdade, alguns estudos sugerem que a terapia hormonal pode ajudar a manter a massa muscular e evitar o acúmulo de gordura visceral, principalmente quando combinada com alimentação equilibrada e atividade física regular.

Mito 3: Apenas mulheres fazem reposição hormonal

Mito. Embora mais comum entre mulheres devido à menopausa, os homens também podem se beneficiar da reposição hormonal, especialmente nos casos de hipogonadismo (níveis anormalmente baixos de testosterona).

A terapia com testosterona pode melhorar a libido, o humor, a energia, a densidade óssea e até a composição corporal. No entanto, é preciso realizar um diagnóstico preciso, pois a reposição sem necessidade pode trazer efeitos colaterais como aumento de hematócrito, acne e infertilidade.

Verdade: Nem todo mundo pode fazer reposição hormonal

Verdade. Existem contraindicações absolutas e relativas para a terapia hormonal. Mulheres com histórico de câncer de mama, câncer endometrial, doenças tromboembólicas, sangramento uterino sem causa definida ou doença hepática ativa geralmente não devem realizar a reposição.

Por isso, é fundamental uma avaliação médica criteriosa antes de iniciar o tratamento, considerando o histórico pessoal, familiar e os exames laboratoriais.

Mito 4: Reposição com hormônios “bioidênticos” é sempre mais segura

Mito com ressalvas. Os hormônios chamados bioidênticos têm estrutura molecular idêntica aos produzidos pelo corpo humano. Eles podem ser eficazes e bem tolerados, mas o termo é muitas vezes usado de forma errada para vender produtos como mais “naturais” ou “seguros”.

A segurança depende da dosagem, forma de administração e acompanhamento médico. Hormônios bioidênticos aprovados por agências regulatórias (como a ANVISA ou o FDA) têm eficácia e segurança comprovadas, enquanto versões manipuladas sem controle rígido de qualidade podem representar riscos.

Verdade: A reposição hormonal melhora a qualidade de vida

Verdade. Inúmeras pesquisas demonstram que, quando bem indicada, a reposição hormonal pode trazer melhora significativa na qualidade de vida, aliviando sintomas físicos e emocionais. Além disso, pode ter benefícios na prevenção da osteoporose, na saúde cardiovascular e na manutenção da função cognitiva, especialmente se iniciada precocemente.

Mito 5: A reposição é para a vida toda

Mito. A duração da reposição hormonal deve ser avaliada individualmente. Muitas mulheres fazem uso por 5 a 10 anos e depois reduzem ou interrompem com segurança. O importante é o acompanhamento médico periódico para reavaliar os riscos e benefícios ao longo do tempo.

Conclusão

A reposição hormonal é um recurso valioso, mas que deve ser usado com cautela e conhecimento. A ciência evoluiu muito nas últimas décadas, e hoje sabemos que, quando bem indicada, ela não é vilã, mas uma aliada no bem-estar de homens e mulheres.

Antes de tomar qualquer decisão, converse com um médico endocrinologista ou ginecologista. Evite automedicação e desconfie de promessas milagrosas. Informação correta é o melhor caminho para cuidar da sua saúde com responsabilidade.

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